Não entendo bulhufas destes tramites de Comissão de Constituição, mas eu aprendi a ler, escrever e fui educada num bairro onde Lucas, o filho de Jonathan, foi expulso da frente da loja Animale, nos jardins, bairro tão “nobre” e tão pobre.
Quando circulo de havaianas e cabelo despenteado talvez tenha mais posses na mochila do que esta vendedora que expulsou Lucas deve ter em sua vida. Não julgo alguém por grana, pelo contrário, ultimamente tenho julgado os “nobres” e até vomitado bobagens de tanto asco que já me fizeram sentir. Sim, tenho nojo de gente arrogante!
Desde pequena frequentava a casa dos caseiros em busca de brincadeiras pelos sítios de São Roque. Na bike detonada, cor de vinho, descíamos o morro e voltava toda ralada no final do dia enquanto a burguesia trazia Atari de Miami pra criançada.
Eu pude fazer tudo isso e mais um pouquinho. Já fui chamada de burguesa, mesmo odiando isso. Cresci num bairro “nobre”, nasci no centrão. Sou adotada. Fui adotada por um pediatra, sua esposa, que são os meus pais. Sou branca, Lucas é igual a mim e se você vê diferença, pare de ler.
Como eu disse acima, não entendo nada de Comissão de Constituição. Foram 42 votos a favor e 17 contra. A maioria das pessoas que votaram não tem a mínima idéia do que estão fazendo? Pô, punir NUNCA será a solução. Podemos falar em Educação e blá blá blá que faz parte disso.
Temos que educar nossas crianças. Elas precisam de AMOR. Elas precisam de carinho. Elas precisam de ATENÇÃO. Disso eu entendo!
Em números diferentes, crianças ricas e crianças pobres estão sofrendo falta de AMOR. Na perifa tem que cuidar dos irmãos desde cedo, trabalhar, apanha e na nobreza a moça de branco acelera uma infância que passa pelos olhos dos pais, o tempo não para.
Aplausos para o pai de Lucas, obrigada.
Os olhares preconceituosos continuam enquanto a gente fortalece!
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Supremo Tribunal Federal vai derrubar mais essa
Foto: ignacio aronovich / lost art
Consulta: Odir
Silvia Ballan, mãe,ciclista, bike anjo, bikerrepórter e colaboradora do Bike é Legal da Renata Falzoni, mãe de Nina, 7, Bia, 16, acredita na educação das crianças em espaços públicos, na rua, na troca … As crianças e adultos são capazes e possuem habilidades para descobrir problemas e solucioná-los de maneira consciente quando conhecem e vivem a cidade.
“Se queremos uma pessoa melhor, cuidamos da criança. Se queremos um cidadão, levamos os pequenos a viver a cidade”, afirma Silvia.