Levar pra escola todos os dias é prazeroso. Quando passamos no André, moço das flores, Nina sempre fala como são bonitas. Na esquina seguinte gosta de sentir o cheiro do milho no carrinho do moço que aparece final de tarde, na volta, e às vezes vira nosso lanche em movimento. Nas outras duas quadras tem o Seu Cícero, moço que cuida deste trecho da rua e quando vamos à loja de produtos naturais ele diz: “deixa a bike apoiada ali ó, eu cuido”. E assim já fizemos amigos e trocamos olhares simpáticos pelo caminho. Assim é pedalar até a escola para buscar a criança, transportar as pequenas criaturas que ora cantam, ora observam ou participam da vida da cidade com um olhar único, um olhar diferente, sem vidros negros, ar condicionado ou qq eletrônico que possa alienar. Curtir o caminho num ritmo tranquilo é assim na ida e volta da escola, numa cicloviagem …
Ontem um pai perdeu a vida indo buscar o filho na escola na cidade de São Paulo e a cicloviajante Johanna Eklö está no Instituto Médico Legal de Rio Branco após ser atropelada por um cara a mais de 100Km/h na estrada de Epitaciolândia, no interior do Acre. Ambos perderam a vida pedalando. Num ato de paz, amor, bem querer eles pedalavam. Um por sonho e outro por necessidade, não importa. Ambos utilizavam o modal mais “na paz” que pode existir e basta conduzí-lo assim que o mundo sorri. Pedalar é um das melhores sensações, senão a melhor que um ser humano pode experimentar e morrer assim, não tô nem conseguindo escrever.
Já ouvi a expressão:
“Não tem espaço pra você levar a sua filha pra escola de bicicleta. Leve de carro ou a pé. Assim não dá. Não tem ciclovia e não é seguro”
Amanhã pode ser eu, pode ser a Nina.
Estou arrasada.
Este foi um simples desabafo educado…
FORÇA para o filho de Elisangelo Lobo de Barros
FORÇA para Emil Böner, companheiro de Johanna Eklö
LINKS :
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Silvia Ballan, mãe,ciclista, bike anjo, bikerrepórter do Instituto CicloBR e colaboradora do Bike é Legal da Renata Falzoni, mãe de Nina, 7, Bia, 16, acredita na educação das crianças em espaços públicos, na rua, na troca … As crianças e adultos são capazes e possuem habilidades para descobrir problemas e solucioná-los de maneira consciente quando conhecem e vivem a cidade.
“Se queremos uma pessoa melhor, cuidamos da criança. Se queremos um cidadão, levamos os pequenos a viver a cidade”, afirma Silvia.
UM DOS NOSSOS OBJETIVOS: mostrar que mãe, filhos, mulher, familias inteiras podem pedalar pela cidade. Não é necessário usar roupas específicas ou ser atleta.
Sem palavras, só tristeza, imensa.
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