Quando pedalo me aproximo das pessoas…de todas as pessoas.
Enquanto isso,Marzagão retruca: “Esse congestionamento é um fator concorrente importantíssimo para que as pessoas sejam assaltadas”
Enquanto isso, eu pedalo.
“Não assisti ao jogo do escrete canarinho, pois estava trabalhando. Mas soube, tão logo cheguei em casa, que perdeu para a Colômbia depois de 25 anos. 1×0, gol de Murillo.
Lembrei-me de que, alguns anos atrás, nutria um fanatismo tremendo por futebol. Quarta e domingo eram dias que aguardava ansiosamente, pois eram (e até hoje são) os dias que as emissoras abertas disponibilizavam para os meros espectadores mortais jogos dos mais diversos campeonatos – Campeonato Paulista, Brasileiro, Taça Libertadores, Copa Sulamericana, Recopa, etc, etc, etc.
Sou santista e amarguei longos anos de jejum de títulos. Vi o Santos contratar jogadores a peso de ouro e não ter nenhum retorno. Pelo contrário, assumiu compromissos onerosos com folhas de pagamento e deve pagar até hoje para jogadores que já saíram do clube há muitos anos. Só em 2002 é que, recorrendo aos chamados “pratas da casa”, a equipe conseguiu vencer o Campeonato Brasileiro, em duas vitórias incontestáveis dos “Meninos da Vila”, liderados por Robinho e Diego.
Em 2002, aprendi uma lição que me fez rever meus conceitos sobre o então badalado esporte mais praticado no pais: a renovação é imprescindível para o futebol brasileiro voltar a ser um dos melhores do mundo.
Em primeiro lugar, renovação daqueles que administram os clubes. Clubes são empresas que geram lucros. E prejuízos. Os lucros, na maiorida das vezes, são repartidos entre os próprios dirigentes e empresários do ramo. O caso da CBF ilustra bem isso. Segundo reportagem do Estadão, a seleção brasileira virou uma mina de ouro para empresários e para a CBF: as escalações obedeceriam critérios estipulados em contratos milionários.
Os prejuízos ficam para os clubes pagarem. Em várias situações, por exemplo, li reportagens sobre penhora do CT Rei Pelé, do Santos Futebol Clube, por dívidas com jogadores e ex-técnicos.
É preciso iniciar um trabalho de renovação nas categorias de base e dar oportunidade para muitos garotos que estão aí, entregues às drogas, à falta de perspectivas, ao desemprego. Uma parceria entre governo, clubes e escolas estimularia alunos de escola pública a seguir firme nos estudos e, como recompensa, a oportunidade para treinar nas categorias de base com todo apoio profissional (massagistas, nutricionistas, médicos, psicólogos, educadores). Há muitos bons jogadores aí perdendo no jogo da vida, o mais difícil de todos.
É preciso rever a agenda e priorizar o torcedor. Em um país onde o salário mínimo é de R$ 788,00, é inviável alguém pagar R$ 300,00 em uma camisa de clube. Como também é surreal uma família com cinco pessoas frequentarem estádios: preços abusivos fora e dentros dos estádios. Em jogos importantes, há quem pague R$ 50,00 e até mesmo R$ 100,00 para guardar os carros. Dentro do estádio, pagar R$ 5,00 em 500ml de água é um assalto. Dentro da lei.
Como falei logo no início, não assisti ao jogo do escrete canarinho. E também não assistirei ao jogo domingo contra a Venezuela. A derrota para a Colômbia não supreendeu, tampouco me comoveu. Se perder para a Venezuela, considerarei resultado normal, diante de todo o cenário previamente anunciado. O Brasil deixou de ser um gigante no futebol. Não é nem sombra das várias equipes que formou ao longo de sua história. Os 7 x 1 da Alemanha não por acaso.
O que me supreende é saber que a temida “bancada da bala” conseguiu aprovar a redução da maioridade penal por 21 x 6. Por goleada, se fosse no jargão futebolístico. A PEC segue para votação na Câmara dos Deputados e percorrerá um longo caminho até a assinatura da presidenta Dilma. Fico me questionando: é esse o caminho para o país resolver o problema da criminalidade? E os crimes hediondos que os senhores senadores-deputados-vereadores cometem e saem impunes, quem os julgarão?
Gostaria de ver sendo aprovada uma lei que modernizasse todas as escolas do país, valorizando o trabalho docente e propiciando aos jovens oportunidades em diversas áreas – esporte, música, teatro, dança, profissionalização. Uma escola diferente do modelo atual, onde todos os dias os jovens fossem estimulados a debater sobre questões primordiais para a vida em sociedade: mobilidade urbana, distribuição de renda, reforma agrária, programas habitacionais, formação profissional, acesso à cultura, ao lazer, à saúde.
Será pedir demais? Será sonhar alto demais?”
Texto: Rodrigo Alves
Video: Silvia Ballan